A minha versão dos fatos

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Raros senhores de súbitas constelações,
Brindem-nos com seus nervos de aço.
Claros rumores que contaminam audições,
Façam-nos uma poesia, estendam o braço.

Digam sim! E como tapete ouçam alucinações,
E com explosão rompam com o antigo laço.
Abram-se e escutem o mar de maldições,
Das quais ela nos faz participar com um rígido traço.

Talvez suas atitudes façam com que a amemos
Mas pode ser que nada nos faça sentir.
As suas pegadas fazem com que a odiemos.

E seu passado de dor inaudita no faz agir.
E não há mais nada a dizer. Reclamemos!
Mas a lei é que choremos quando devemos sorrir.

No barulho do vento da noite

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A noite arrependida
Foi arrebatada pelos vestígios.
Confusão! Palavras inauditas.
A insensatez maligna,
É suspiro distante da face.

As moradas possuem o doce tom do silêncio,
Nas entranhas o soluço é o som primordial
Razões tenebrosas de emoções espaçadas.
A força nada mais é do que a falta de medo.

As nuvens caem
E sopra o barulho do vento da noite.
Entre suspiros e desejos escondidos,
Aparece no cenário o casal de apaixonados.
Beijam-se e se abraçam ardentemente.
E morrem juntos no cenário real da peça imaginada.

Ela por ela mesma

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Ela escutou os ruídos em uma rua vazia.
Eram os traços infinitos de um dos seus passados.
E ela cantava loucamente querendo chamar atenção,
Mas não a escutavam, nem a voz tampouco o coração.

Triste destino se a banca julgadora da vida fosse normal,
Mas ela é sua deusa e preza pela solidão.
Para falar a verdade, nem sabe o que é solidão,
Quem sempre viveu só não sabe o que é sentir falta de alguém.

Ela não conheceu o outro, sua alteridade é ela mesma.
Não conhece rostos, sorrisos falsos nem verdadeiros,
Mas se conhece como ninguém.
E o melhor é que para ela não existem defeitos nem qualidades.

Ela é o caminhar sozinho no meio da chuva da noite,
Ela é a entrega ao nada debaixo do sol escaldante.

Hécate

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A escuridão lhe contempla,
E tons de vinho se aproximam.
Senhoras aparecem, mas três a afugentam.
Na luz do sol ao meio-dia,
Ouviu os gritos, mas não viu a face.

De insatisfação é coberta,
E então os três aparecem.
São seus fieis companheiros
Na exatidão da encruzilhada.

É monstro na face.
É racional internamente.
A invocação na hora da magia
Faz-lhe rainha na hora errada.

Não há misericórdia alguma.
Mas há uma perdição qualquer.
É um lugar distante,
Mas que não aparece apenas em noites de fantasmas.

Os pontos são lacunas

Ela é personagem principal de uma vida coadjuvante.
É motivo de orgulho, mas só pra ela mesma.
Anda desfigurada, mas se acha muito bonita.
É adepta da ideia de que a beleza vem de dentro.

E quando consegue uma felicidade qualquer
Não consegue aproveitar,
Pois pensa no que ainda tem para fazer.

Ela não vive os momentos,
Ela vive do futuro que para ela já existe,
Mas todos sabem ser utópico.

Ela bebe sozinha por falta de amigos.
E só bebe acompanhada quando paga tudo.
E só está acompanhada quando desperta um interesse qualquer.

Só não entendo quais!
Ela não é bonita, não é inteligente,
- E rica?
- Não, não é.
Pode ser facilmente substituída,
Mas raramente é chamada para compor sequer a reserva.

Ela não é sociável, não sabe contar piadas,
Mas deve ter lá seus atrativos,
A vida seria muito injusta se lhe privasse de pelo menos um sorriso forçado.

E ela ainda morre de satisfação,
Pois o que não morre é a insatisfação.

O diálogo da não interpretação

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Essa é uma poesia de...
Dominação!
Parece tendenciosa...
E é!

O diferente (que é singular)
Sempre domina os iguais (toda a unanimidade).
A unanimidade é cega.

Do que se trata esse texto, então?

Os versos não rimam,
Não estão organizados,
Não se combinam,
E não são bem tratados.

Frases expostas,
Sem nexo algum,
Situações desligadas
Frases compostas e
Anexadas.
Figuras interligadas,

Rimas mal feitas,
Situações imperfeitas.

E até a rima mais previsível foi usada nas duas estrofes anteriores.

E no fim, há mensagem?

O diferente (que é singular)
Sempre domina os iguais (toda a unanimidade).
A unanimidade é cega.

Como se foss’eu

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Será doce como o mais puro mel,
E terá um sabor agradável e suave
Como se fosse o meu prato predileto.
Terá um gosto forte, no início e no final,
Como se fosse aquela pimenta...
Aquela cujo gosto é o que mais me agrada.

Será rápido como o vencedor de uma maratona,
E terá um traço súbito
Como se fosse a minha canção favorita.
Será bonito – no meio – como pérolas.
Precioso como o que só pode ser extraído...
Extraído de um só lugar.

Será devagar como a imagem em câmera lenta
E não estará a esmo, anda com liberdade,
No início – caminha – no meio – com direção – e no fim.
O início é um marco, mas o fim não é o final.
E terá um lugar no mundo...
Um lugar que será meu também.

A maldade divina

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Composições torpes de letras inibidas,
Amores embriagados de uma leveza escondida.
O oculto se espalha e se revela,
E a noite ascende ao mesmo tempo em que o sol se desvela.

Picuinhas apaixonadas por confusão.
Confusão descrita aos moldes do que inventa a imaginação.
Criadora de mundos já existentes.
E os raios descem a conceber
Uma multidão endossada ao perecer
Ao nascer da escuridão.

Testemunhos verdadeiros de fatos mentirosos,
Sorrisos falsos, abraços tenebrosos.
A letra inspira a noite outrora parida.
E a serpente vai embora deixando os destroços:
Corações destruídos, mentes capciosas
Sorrisos esmagados, maldosos,
Cheios de bondade divina,
Cheios da maldade eterna.

Ogni tanto*

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Já passa da metade da noite e de repente me pego pensando
Em nada!
Nesse momento, há algo em mim que parece explodir.
É algo triste e vazio. É como se nada do que houve até hoje valesse a pena,
Embora eu saiba que valeu.
Mas não o tanto que eu gostaria.

E agora estou suspensa e sem arrependimentos.
O vazio que me preencheu de mais vazio não foi em vão.

Sou avessa ao convencional,
Não gosto de modas. Às vezes percebo que até não gostar de modas é uma forma de rebeldia convencional.
Mas é que não encontro mais nenhuma.
Não posso afirmar o que sou ou o que não sou.
Talvez não seja nada, talvez eu seja o mundo.
Sei que dentro de mim há vários universos,
Não sei se pertenço a algum desses universos,
Não sei ao menos se pertenço a mim mesma, mas é certo de que se nem ao menos sou de mim não pertenço a ninguém.
Até agora não consegui dizer o que realmente quero,
Talvez a moral dessa história – se há moral – é que passarei a preencher pequenos vazios com grandes terremotos.

E desse poema sem ritmo no fim soa uma melodia.

* Ogni tanto (Ocasionalmente), música que escuto nesse momento, da fantástica Gianna Nannini.

Um poema de amor

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A noite se aproxima e as luzes, tímidas, acendem.
Iluminam ainda de maneira pacata, estão caladas.
As luzes não falam, não sentem o que é emanado
Pelo belo par que se encontra abaixo do candeeiro.

Esse poderia ser um poema de amor.
Não o é. Não há amor no belo par.
Ocasionalmente penso, ocasionalmente choro,
Surpreendo-me. Ponto. Explosão.
Corpos e almas que brilham abaixo do candeeiro
Nada mais são do que o que poderia ter sido.