Minha Apologia

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Já fiz tantas poesias nessa peça de teatro que chamamos de vida, nesse palco completo, livre e verdadeiro. Já me entreguei a tantas coisas, algumas contemporâneas, outras mais antigas, porém todas partes de mim. Tantas poesias que nem sei se assim as posso chamar, mas sei que feias ou bonitas, elas revelam algo de mim, às vezes bem pouco, às vezes um pouco mais. Em minha mente está algo bem mais arraigado que tudo isso, uma total imbricação ao todo e ao vazio, as sensações através do vidro, ao meu amor, a minha fulana, a minha rapariga, ao meu eu, ao meu outro eu, ao eu distante de mim. É pessoa, é bicho, é coisa, é sentimento, é distração, é munição, é tempo, é se perder no tempo, é vagão de trem confuso, é andar entre o equilíbrio e o escândalo, é perturbação, é angústia, é o concreto e o abstrato.
Não falo de um amor, como aqueles que a gente sente por homem ou mulher. Não falo de indecisão, falo de introspecção de barreiras intransponíveis. Falo de sentimento ao acaso, ao vento, mas não é sentimento de momento... Às vezes as certezas fogem as nossas mãos como um pássaro que acabara de ser solto, sem saber se deixa seu dono e sua gaiola a qual está acostumado, só sei que as certezas somem. Antes, isso me matava diariamente, mas percebo que coisas certas não atraem, não tem gosto, nem brasa, nem paixão solta no vento, nem amor de raiz. O que me atrai é saber do que não sei, do que não pego, do que sinto.
De ti dependo, te peço, me dedico a todo instante, com encanto e desencantos, para não quebrar o cristal que te liga a mim. Não me deixa se não eu morro, por ti sou piegas. Isso é piegas? Você é forte e me domina, me coloca em teus braços e me amarra, me solta e me deixa como folha desprendida de seu caule, construímos nosso mundo unidas, com brigas, tapas e surras, com carinhos, beijos e abraços.
A minha mulher, a minha vida, minha paixão, meu AMOR. Tu és o que me acalma e me calunia, me acalanta e me faz chorar, choro bom de gozo do que não sei. Tu és minha dedicação, minha entrega, meus delírios e desatinos. Tu és meu ódio, meu apego e meu não entendimento, meu forte e meu fraco, meus pontos de encontro e desencontro, tu és minha, mas eu te divido. Oh quão bom é não ter ciúmes de você, mentira! Eu morro, eu me mato, eu grito e me calo de ciúmes de você. Minha faca, minha isca, minha HISTÓRIA, minha VIDA.

Ilustríssimo Eu...

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Ilustríssimo eu,
O que são conexões a quem se perde constantemente?
E os instintos que me salvam e perduram ao mesmo tempo?
Do lado oposto de minhas indecisões,
Como um caso impreciso de amor e ódio e,
De sensações vagas e de olhares profundos.

Ilustríssimo ser que vive dentro e fora de mim,
O mais longe que consigo te enxergar,
É no burburinho e no sossego,
Sigilo e segredo que apontam,
Ora afloram, ora desbotam,
Ora se escondem dentro de mim.

Mas eu sei, ele está aqui,
Só tenho que finalizar baixinho,
Para que meu burburinho não acorde e,
Eu tenha que passar a noite cantando,
Músicas de acalanto em voz suave,
Mesmo que o conteúdo da canção seja um tanto grave.
E você não mais se acalme,
Até vir pedir a divisão de meu café,
Que já fiz pouco, só pra não ter de ficar acordado,
Lembrando de minhas rimas, falhas e pecados.

Ilustríssimo eu,
Devo dizer que saio de fininho,
Como uns delineiam, despercebido.