Através do Vidro Escuro

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Por ocasião da semana do escritor, um trecho do capítulo 2 de "Através do Vidro Escuro", intitulado "Da identidade". Trata-se da apresentação da personagem principal, chamada de "Perdição".

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Tudo fora traçado pelo destino. Depois de muito tempo ela percebeu que apesar de não haver nada de fantasmagórico em sua vida, havia algo muito de estranho em si mesma.

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Minha casa é o mundo e meu espaço é tudo o que existe, até a própria inexistência. Sentimento é um abstrato que toma cor e forma, é como se uma poesia pudesse virar pessoa: se eu fosse uma poesia, seria daquelas de horror. Oh, como peco. E carrego pesos como um atleta que deve sempre aumentar sua carga diária para que possa com isso aumentar os seus níveis de resistência. E tudo isso se desenha de maneira que todos percebam que o que houve ontem já é pouco demais para mim. E hoje é menos que amanhã.

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Os dias são números, números que vagueiam e preenchem a minha mente por trás do Vidro. Vidro fosco com interstícios de visões do outro lado. Minha cabina de proteção é formada pelo fosco e pelo transparente. Meu transparente é tão errado que quase tem cor. Sou a não cor e sou o negro e o negro não é a falta de cor.