Cronos ou Kairós?

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Talvez nosso tempo já tenha passado.

Entre a posse e a contemplação
Escolho lhe contemplar.

E nosso tempo talvez ainda esteja por vir.

A contemplação me parece mais eterna
Do que a companhia do que é real.

Talvez nunca tenha existido.

O que é real é composto de matéria,
Ainda que seja uma matéria imaginada.

Tampouco venha a existir.

E a realidade é a eterna solidão.
E estar em segundo lugar me permite almejar o primeiro.

Talvez minha alma já respire nosso tempo.

Se estivesse em primeiro, só poderia pensar em cair,
E em qual lugar?
Prefiro a falta de lugar em vez da rigidez sob meus pés.

E(u)rro(ei).

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Eu, filho da vítima que sou e do assassino de mim mesmo.
Que sou eu além do orgulho insuspeito estampado na face?
E o tempo me diz:
- O que fazer, o que pensar de errado?

E, de vez em quando, gosto de pensar que sou importante:
Sou o principal em alguma coisa perdida no tempo estranho de minha mente.
- O erro sou eu.
Sou a representação inquieta e quase apostólica do erro.

Dizer que até o errado é muito para mim é errado também.
E é errado porque de tanto saber de minhas linhas descompassadas
Percebi que de fato elas existem.
Sou dois:
Sou o maior erro e a maior percepção do erro.

O Silêncio do Universo Infinito*

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Existem pessoas boas,
Existem pessoas más,
Existem pessoas vazias,
Existem pessoas com nada,
Existem pessoas com tudo,
Existem pessoas completas,
Existem pessoas pensantes,
Existem pessoas coadjuvantes,
Existem pessoas capazes,
Existem pessoas surpreendentes,
Existem pessoas baixas,
Existem pessoas altas,
Existem pessoas orgulhosas,
Existem pessoas modestas,
Existem pessoas falsas,
Existem pessoas verdadeiras,
Existem pessoas oportunistas,
Existem pessoas inteligentes,
Existem pessoas espertas,
Existem pessoas ignorantes,
Existem pessoas indiferentes,
Existem pessoas insuportáveis,
Existem pessoas agradáveis,
Existem pessoas vilãs,
Existem pessoas dramáticas
Existem pessoas caladas,
Existem pessoas silenciosas.

Existem até pessoas boas.
Existem até boas pessoas.
Existem até pessoas más.
Existem até más pessoas.

* O título desse escrito faz referência aos pensamentos de Blaise Pascal.

O Um e o Múltiplo

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1. Essa é uma poesia do fundo de minh'alma.

1. Caminho com meus dedos sobre os caminhos
2. das incertezas que me regem.

1. Não sei qual é a cartada certa,
2. Mas sei que figuras se misturam
3. Como doces casais extenuados.

1. Não sei qual é a jogada decisiva,
2. Mas sei que existe um futuro incerto,
3. E por ser imerso em surpresas
4. Faz de mim alguém temporariamente deserto.

1. E no silêncio de um desertor culpado
2. Por seus vícios e vontades sóbrias,
3. Atiro-me do alto de um precipício
4. Para a obscuridade de seu coração
5. Em uma noite sem lembranças.

1. E minhas memórias já não me condenam,
2. Embora não concorde com todas elas
3. Foi por elas que cheguei até aqui.
4. E até uma frase piegas é para mim
5. O brilho de uma atitude qualquer.
6. Os "qualqués" são tão fundamentais.

1. Quem não sabe o que é amor
2. Se compara a uma pedra.
3. Mas quando saímos de uma relação feroz,
4. Que nos mata e destrói
5. Com intensidade semelhante
6. Ao que de bom nos trouxe em seu princípio,
7. Não temos vontade de repeti-la.

1. E quando percebemos que o que achamos ser mal
2. Insiste em superar o que queremos preservar
3. (Isso chamamos de bem),
4. Então é hora de libertar-se a si próprio,
5. Para depois acabar com o outro,
6. Mesmo que sem querer.
7. E quando finalizamos as relações passadas,
8. Significa que estamos bem.

1. Um antigo ditado latino nos diz:
2. "Vence duas vezes quem vence a si mesmo".
3. Mas perde quem não consegue se fazer indispensável.
4. Porque as mais cruéis dependências
5. Estão fadadas a finitude.
6. Há frases (fases) de um livro (da vida)
7. Que imploram por um ponto final.
8. E a humilhação de outrora
9. Agora é um lampejo de respeito a si próprio.

1. E o que esperar do futuro se sou seca?
2. Simples! Nada espero do amanhã,
3. Amanhã que espere de mim (não por mim!).
4. Porque se a minha boca ficar muda,
5. Meus pensamentos irão gritar.
6. Não espero nada, não gosto de atrasos.
7. E de mim só se sabe da importância
8. Noticiada aos cinco ventos como um murmúrio.
9. De mim só se sabe que sou indispensável.
10. Indispensável para mim.

(Des)luto

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“Erva Venenosa (Poison Ivy)” é quarta música do disco “3001”, lançado no ano de 2000, de Rita Lee Jones. Foi a primeira canção que escutei da maior diva do rock brasileiro. Começou, então, algo maior que um casamento, pois sempre tive a garantia de fidelidade. Isso só parte de mim. E sou segura do que sinto sempre que sinto. Alguns momentos foram de profunda loucura e idolatria, em outros estive mais contida, mas não com menos loucura. O grande problema é que nunca havia imaginado que Rita Lee existia de verdade. Como disse Lispector um dia: “a vida é sobrenatural”, e foi assim que sempre vi a minha diva Lita Ree. Para minha surpresa – Susto! – Descobri que ela é real na última música de seu primeiro show que assisti. Aquele solo de “Ovelha Negra” é tão surreal que parece mentira. Aquilo arrepia a alma. Ela existe. Sou “fãmília” de alguém de verdade, como se um dia eu tivesse duvidado de minha imaginação...
“São coisas da vida e a gente não sabe se vai ou se fica” são dizeres de minha canção favorita. E advinha quem canta? Mas não há luto na música e muito menos em mim. É mais que um casamento, não?
Quaisquer outras palavras cairiam mal, não é possível descrever o sobrenatural. São coisas que só quem sente sabe como é. E eu sinto, sim! Sinto Rita Lee.

Keidy Lee.