Locomotivas passam entre os vãos de multidões
A fumaça ascende aos céus, embaraçando o ar
Os carros tonteiam para lá e para cá
Os sorrisos são invisíveis em meio a multidão.
Rostos passam no ano pelas quatro estações
E na vida cotidiana são anos a fio
Com profunda inteireza, mas meio vazio
Pessoas caminhando sem identidade.
Paira a necessidade de repetir, de mal respirar;
O martelo bate lá e bate cá, o barulho ensurdece
Indústrias que fabricam o que não posso comprar
Coração emudecido e sufocado pelo padrão.
Neste turbilhão encontramos uma ou duas pessoas.
Às vezes nem as percebemos e isso nos sufoca;
É a ignorância de nunca ter conhecido alguém
Então de que te defendes se, no amor, não há perigos?
No vai e vem esbarramos em alguém, e identificamos
Retirar dos padrões e dar relevo é arriscar;
E a buzina da locomotiva anuncia, no outro dia,
Que os trilhos da vida cotidiana podem ser desviados.